29 setembro 2017

Hindemith e Brahms na Filarmonia (um post com brinde)

Ontem assisti a um concerto memorável na Filarmonia de Berlim, desculpem o pleonasmo.

E para não dizerem que sou mete-nojo, aqui deixo um brinde para quem o quiser ver em directo: a transmissão vai ser no Digital Concert Hall amanhã, sábado, às sete da tarde em Berlim (seis em Portugal). Entrem no site, inscrevam-se, e quando vos pedirem o código, escrevam BLG78X48. Assistem ao concerto e ficam com o DCH aberto durante 48 horas consecutivas.
Encontrei o voucher no programa do DCH para esta temporada. Espero que a empresa me pague a publicidade, em vez de me meter na cadeia por considerar que divulguei um segredo deles.

Vejam (e, se gostarem, considerem dar aos vossos amigos de presente de Natal um voucher para uma semana ou um mês) (isto sou eu a tentar compor mentalmente a minha defesa: "senhor juiz...") e depois digam-me se o Daniele Gatti não é um mimo. 

Na primeira parte tocaram a sinfonia "Mathis, o pintor", de Hindemith.
Aos anos que ando a dizer que não gosto de Hindemith, e zimbas: lá tive de dizer adeus a mais uma das minhas manias. O primeiro andamento desta sinfonia é sublime.
Os outros também.

Do programa do concerto: Hindemith compôs esta sinfonia a convite de Wilhelm Fürtwangler, o maestro dos Filarmónicos de Berlim, que a apresenta a 12 de Março de 1934. Ao entusiástico aplauso do público segue-se a perseguição dos nazis. Göhring transmite pessoalmente a Fürtwangler a proibição, decretada por Hitler, de tocar aquela peça. Fürtwangler protege Hindemith num artigo muito franco publicado num diário alemão, a que dá o título "O Caso Hindemith". Os argumentos são bizarros, mas eram os possíveis naqueles tempos de III Reich: o compositor de "puro sangue germânico" fez muito para impor a música alemã no mundo. Afirma que se trata de "uma questão geral de princípios. Mais ainda, e também não pode haver dúvidas a esse respeito: perante um panorama mundial de desgraçada pobreza no que diz respeito a músicos que produzem com esta qualidade, não podemos dar-nos ao luxo de renunciar a um homem como Hindemith". A resposta cínica do regime nazi não se faz esperar: proíbe a execução em público de qualquer peça de Hindemith. Este decide abandonar o ensino no conservatório berlinense, e emigra para a Suíça em Setembro de 1937.

O programa alude aos paralelos entre o contexto no qual decorrem os trabalhos criativos de Hindemith e de Mathis Gothart Nithart (que entrou na História como Matthias Grünewald), e que explicam parte do ódio dos nazis a esta obra. Da wikipedia em francês, sobre a ópera de Hindemith, com o mesmo nome e temas da sinfonia: peintre et ingénieur hydraulique allemand de la Renaissance, contemporain d'Albrecht Dürer et qui a inspiré certains peintres expressionnistes du début du XXe siècle. Le livret situe l'action durant la Révolte des Rustauds vers 1525. La lutte de Mathis pour l'expression artistique dans le climat répressif de son époque est clairement le reflet de la propre vie de Hindemith, qui a commencé à écrire le livret alors que les Nazis arrivaient au pouvoir. Ceux-ci ont qualifié Hindemith de « bolchevik musical » et Hindemith s'est alors exilé aux États-Unis d'Amérique.

Deixo-vos os três andamentos da peça, com Hindemith a dirigir os Filarmónicos de Berlim, e imagens das partes correspondentes do retábulo de Matthias Grünewald (o tal Mathis) em Isenheim. Vale a pena ouvir os andamentos contemplando as imagens - podem carregar nas fotos para ver melhor).
1. Concerto dos anjos








2.  Enterro

(foto)



3.  Tentação de S. Antão

 
 (foto)










Depois do intervalo foi a vez da segunda sinfonia de Brahms.
Como este post já vai longo, ficamos assim: cada vez gosto mais de Brahms.




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