11 fevereiro 2018

"Brecht" (1)

Ainda o tema Brecht na Enciclopédia Ilustrada:

Esta manhã, ao procurar uma foto de Bertolt #Brecht, deparei-me com uma lista das suas nacionalidades. É apenas um detalhe, mas simboliza bem as condições inseguras em que foi obrigado a viver.

Brecht nasceu em 1898 na Alemanha imperial. Assistiu à passagem da monarquia para a república. Em 1924 – em plena república de Weimar - mudou-se para Berlim, para o meio de escritores e gente do teatro. Nessa década aproximou-se muito do partido comunista. A partir de 1930 os nazis começaram a dificultar-lhe o trabalho cada vez mais. Com a chegada dos nazis ao poder, em 1933, viu uma peça sua ser interrompida, e os organizadores serem acusados de alta traição. Uns dias depois, umas horas após o incêndio do Reichstag e pouco antes de lhe queimarem os livros, fugiu: Praga, Viena, Zurique, Paris, e finalmente Dinamarca, onde passou com a família os cinco anos seguintes. Em 1935 os nazis retiraram-lhe a nacionalidade alemã. Permaneceria apátrida até 1950, quando a Áustria lhe deu um passaporte. Em 1941 conseguiu um visto para fugir da Dinamarca para os EUA. A viagem foi feita por Moscovo e Wladiwostok. Com a entrada dos EUA na guerra, Brecht – que estava nos EUA para fugir aos nazis – foi considerado “enemy Alien” e passou a ser observado pelo FBI. A 30 de Outubro de 1947 compareceu perante uma comissão do McCarthismo, onde afirmou que nunca pertencera ao partido comunista. No dia seguinte partiu para Paris, e daí para Zurique. A Suíça foi o único país que lhe deu autorização de residência. A Alemanha Ocidental, que estava ocupada pelos americanos, recusou-lhe a entrada. Atraído pela entrada em funcionamento de vários teatros em Berlim Leste, Brecht aceitou um convite para ir para a RDA, em 1948. Zurique, contudo, continuava a ser a cidade onde queria viver. Mas quando a Suíça lhe recusou uma autorização permanente de residência, Brecht voltou para Berlim Leste. Em 1950 a Áustria concedeu a Helene Weigel e a Brecht a nacionalidade austríaca, pondo fim à sua condição de apátridas que já durava dez anos. Esse gesto provocou um enorme escândalo, em especial porque eles não estavam interessados em ficar nesse país. Pouco depois, a RDA concedeu-lhe também a nacionalidade.

Na sequência do massacre de 17 de Junho de 1953, Brecht escreveu ao governo uma carta onde reafirmava a sua lealdade ao partido, mas também analisava as causas dos confrontos e fazia sugestões para o governo corrigir os seus próprios erros. O governo publicou parte dessa carta no jornal – melhor dizendo: apenas a parte em que Brecht reafirmava a sua lealdade ao partido. Brecht tentou defender-se, mostrando a carta na sua totalidade, mas já não conseguiu impedir a desconfiança e os danos. Os teatros da Alemanha Ocidental deram início a um boicote das suas peças.

Marginalizado na Alemanha Ocidental, alvo de desconfiança e ele próprio desconfiado do regime da RDA, de novo apanhado num jogo de forças no qual não passava de um peão. Retirou-se para a sua casa em Buckow, a uma hora de Berlim, onde se dedicou inteiramente à escrita. Foi nessa época que escreveu o poema que sugere ao governo que demita o povo e eleja outro.

Em 1954 iniciou o trabalho no famoso teatro berlinense que passaria a ficar ligado ao seu nome, e aí trabalhou a um ritmo insuportável, até morrer em 1956, aos 58 anos de idade. No seu funeral ninguém falou – como ele tinha pedido.

Junto algumas fotos da casa em Buckow, que foi feita para um escultor e por isso tem uma sala com pé direito duplo e uma janela enorme virada para o lago.


 





 

 


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