12 fevereiro 2018

"ouro" (2)

[ Enquanto ainda é dia 9 no Peru;)
mais um post rápido sobre #ouro ]

[ Queria escrevê-lo ontem, mas andei o tempo todo a hesitar, "não me digas que vais contar outra vez essas histórias que já toda a gente ouviu várias vezes?!", mas é mais forte do que eu, e portanto: ]

Post tipo carro vassoura para apanhar as histórias que por aí tenho largado sobre o ouro que me passou ou não passou pelas mãos:

1. Na altura em que eu comecei a ler os livros dos Cinco e dos Sete, o meu pai vendeu a "quintinha minhota" do pai dele, que significava muito para a miúda de sete anos que eu era. Na última visita que fiz à casa, combinei com o meu irmão olharmos para tudo com muita atenção, porque podia haver um tesouro escondido e se o encontrássemos já não era preciso vender a casa. Assim fizemos, mas não encontrámos nada. A casa foi vendida, o novo dono começou a fazer obras, e logo encontraram um pote cheio de libras de ouro. Há tempos falei com o homem que o encontrou. Disse-me que estava numa caixa de areia, numa das lojas do piso térreo, por baixo das escadas do alçapão. Ele pensou "que coisa tão esquisita, esta caixa com areia - deixa cá ver o que tem dentro", meteu a mão, e bateu no pote. Lembro-me perfeitamente (enfim, penso que me lembro) dessa caixa, e do nojo que senti ao olhar para ela. Da próxima vez, hei-de ler os livros dos Cinco com mais atenção.

2. Uma vez mudei para uma casa onde ainda havia pintores a trabalhar. O camião trouxe as nossas tralhas, e eu trouxe as coisas de valor no nosso carro. Um dos pintores era um tarefeiro temporário da empresa de pintura, e veio a descobrir-se que era gatuno. Penso mesmo que seria cleptomaníaco, porque começou por roubar o desodorizante e o perfume do Joachim, que já iam a meio. O Joachim achou estranho essas coisas desaparecerem da casa de banho e eu respondi que se calhar os teria perdido no meio dos caixotes, de modo que quando eu lhe telefonei no dia seguinte a dizer que o meu porta-moedas tinha desaparecido, e a pedir para ele cancelar os cartões, ripostou que eu devia procurar melhor no meio dos caixotes. E foi aí que caiu a ficha: fui ao sítio onde tinha deixado as minhas caixas com as coisas mais valiosas, e faltava todo o ouro das minhas avós minhotas. O gatuno cleptomaníaco, digamos assim, tinha visto exactamente os volumes que eu trouxera de carro, e onde os deixara.
Ora bem: o meu middle name é "sempre em pé" - só pode ser. Ao descobrir que os cordões, os brincos, os trancelins, tudo tudo tudo tinha desaparecido, o meu primeiro impulso foi: "olha, agora já posso ir de férias descansada, já não temo que alguém entre em casa para me roubar o ouro".
Umas semanas mais tarde assisti ao desfile das mordomas nas festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo. Ao ver todas aquelas peças iguais às que me tinham roubado, fiquei em paz com essa perda. Senti que tudo isso ainda estava no mundo. Já não numa gaveta minha, mas por aí.

3. Quando a minha filha nasceu, uma grande amiga ofereceu-lhe uma pulseirinha de ouro dizendo-me, com uma piscadela de olho, que aquilo provavelmente não serviria para nada à bebé, mas quando chegasse aos 15 anos ia dar muito jeito para trocar por droga. A pulseirinha ainda aí anda (por sorte o palerma do pintor não a roubou). Das duas, três: ou não precisou, ou então a mesada era tão alta que dava para todas as despesas, ou então dong dong dong estão a bater as doze horas, tenho de me calar imediatamente porque daqui a nada o ouro transforma-se numa abóbora.

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Comentários de colegas enciclopedistas:


I. Um belo dia foram dois homens lá a casa mudar o papel de parede, anos setenta,talvez. A paginas tantas foi preciso afastar o baú dos lençóis e a minha mãe comentou que era muito pesado mas não era o baú das libras!
Resposta imediata:
- Pois não, essas, (o ouro) já nos caíram na cabeça ao tirar a sanefa da entrada !


II. Acerca da perda de ouro da família. Um dia na clínica a mãe deu-me um saquinho com um lenço de papel dentro eu pensei que seria para deitar no lixo e deitei (deitei o ouro da avó que ficou internada na clínica no lixo, acho que ninguém acredita que o deitei no lixo). 


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