10 abril 2018

"se é o Jens ou se é o Ali quem mata"

Traduzo (rapidinho, aviso já!) partes de um texto do jornal Süddeutsche Zeitung que coloca as questões certas sobre as tragédias e o discurso de ódio:

Ataque em Münster
Se é o Jens ou se é o Ali quem mata

Para as vítimas é indiferente quem ia ao volante da carrinha em Münster - para o debate sobre segurança interna é essencial. Infelizmente.




Comentário de Detlef Esslinger
(...)
Ninguém poderia imaginar que um sábado à tarde e a esplanada do "Kiepenkerl" seriam o momento e o lugar errado. Que algumas pessoas poderiam ser repentinamente mortas ou feridas.
E que a seguir viriam as perguntas inevitáveis: quem era o autor desta tragédia?
Quantas pessoas terão imediatamente pensado que se podia tratar de um ataque islamista? Para os familiares e para todos aqueles que estão agora nas mãos dos médicos, de momento não é importante saber se um condutor confundiu o acelerador com o travão (como aconteceu há dois anos em Bad Säckingen), se um terrorista usou o seu carro como arma (como em Dezembro de 2016 em Berlim), se uma pessoa não sabe o que fazer à sua vida (como parece ter sido o caso agora em Münster), e se esse condutor se chamava Jens ou Ali. Não temos muitas defesas contra nenhum destes motivos.

No entanto, para os debates que têm lugar após casos destes, já faz diferença saber quem é a pessoa que está a ser investigada - mesmo quando certos debates começam de forma infame. Apenas vinte minutos depois das primeiras notícias sobre este caso, a sempre miserável deputada da AfD Beatrix von Storch sugeriu num tuíte que o condutor só podia ser estrangeiro/refugiado/islamita. Esta é uma daquelas pessoas que nunca precisam de ter conhecimento, porque já lhes basta ter convicções. Um drama como este dá muito jeito ao seu discurso de ódio. Ela vai continuar a procurar e a encontrar oportunidades.

Pode soar banal e óbvio, mas perante casos destes talvez seja necessário repetir: cada um é individualmente responsável pelo que fez - não se pode nunca extrapolar para o grupo ao qual essa pessoa pertence, seja ele o grupo dos migrantes, dos que têm problemas mentais ou dos homens de meia-idade.
Ninguém extrapolou do homem com o muito americano nome Stephen Paddock, que no passado mês de Outubro cometeu um massacre em Las Vegas, para todas as outras pessoas com problemas psíquicos. E com razão (...). Ninguém vai agora extrapolar de Jens R. para outros. E também os outros têm o direito a um mínimo de bom senso e decência - os que, por exemplo, se chamam Radouane e não têm nada em comum com o islamista que recentemente matou quatro pessoas no sul da França.
Num dia como este, aqueles para quem a sua cidade e a sua comunidade representam algo valioso choram, e aceitam o convite para rezar feito pelo bispo de Münster, ou vão dar sangue. Axel Prahl, um dos actores principais dos episódios de Münster da série criminal Tatort, escreveu:
"Münster, mantém-te como eras e como gostamos de ti: aberta, pacífica, amigável, forte e orgulhosa. Não te dês por derrotada agora." É de um afecto e de uma sensibilidade educada como estes que necessita quem foi atingido no corpo e na alma. O ódio, esse, seja contra pessoas ou contra grupos, nunca ajudou ninguém a superar uma catástrofe.



Sem comentários: